Vivemos tempos pujantes de informação e conhecimento, tempos que nos trouxeram a oportunidade do acesso a muita informação, a muito conhecimento.
Mas para que serve essa sabedoria?
O cidadão comum está mais capaz e instruído?
Recordo-me que, somente há 46 anos, tivemos livre acesso à escola para todos e à massificação educativa num movimento impar de combate à iliteracia que grassava no tempo do Estado Novo. Éramos um povo com uma enorme taxa de analfabetismo.
Aquele que não sabia ler nem escrever era analfabeto.
Neste estado de ignorância, a existência era muito difícil e a sobrevivência era para muitos vontade do destino.
Foi uma autêntica revolução cultural, o acesso à educação do povo português, e a educação de adultos constituiu uma oportunidade única para todos os cidadãos através de fortes campanhas de alfabetização promovidas nas décadas de 70 e 80 do século passado.
Mas não foi somente o acesso à educação dos cidadãos, mas também o desenvolvimento sociocultural e económico que veio valorizar a sociedade portuguesa permitindo o acesso a atividades culturais e desportivas, mobilizando milhares de cidadãos em igualdade de oportunidades sociais.
Complementarmente, a proliferação de uma rede de bibliotecas totalmente acessíveis aos cidadãos de qualquer idade ou geração tornou possível a formação voluntária, individual e personalizada de quem o desejasse.
Digamos, então, que a importância da Educação de Adultos é com certeza uma mais valia formal para que o ato de cidadania que transporta torne possível a conquista plena da liberdade dos cidadãos.
Mas, neste século XXI, novos desafios e novas oportunidades se colocam perante nós. As mudanças acontecidas no mundo e no quotidiano da humanidade convocam-nos a buscar novos conhecimentos, novas informações culturais e de comunicação para corresponderem às transformações que estamos a viver.
Hoje somos analfabetos por não sabermos usar um cartão de crédito ou comunicar com a família pelo telemóvel ou internet.
É que, neste século XXI, o conceito de analfabetismo evoluiu.
“Todo aquele que não consegue corresponder aos problemas com que se depara no seu quotidiano de vida”. É este o conceito de analfabeto definido pela Unesco.
É certo que o ser humano é um animal de hábitos e a maioria reproduz os comportamentos das maiorias sociais. Será por isso que é mais fácil encontrar uma família ao domingo num centro comercial do que em visita a um museu!!!
É verdade que há muitos jornais e bibliotecas por todo o lado, mas os cidadãos ainda não lêem o suficiente e com critério, com escolhas de qualidade.
É verdade que o acesso fácil às tecnologias de comunicação cria novos hábitos excessivos e vícios, pois criam-se exageros difíceis de controlar!!!
Assistimos, assim, a “brutificações” pelo excesso de horas diante das televisões sem critério ou as figuras caricatas dos nossos jovens pelas ruas a “esbarrarem-se” com os candeeiros ou sem atenção ao trânsito por dependência dos telemóveis!!!
A formação do adulto é um acto de cidadania fundamental que implica primariamente como acto de consciência – a instrução e formação – enquanto compromisso dos cidadãos consigo mesmos!!!
A formação educativa e cultural dos homens e mulheres devem fazer parte dos hábitos primários de todos nós como razão de viver.
O acesso que hoje temos ao cinema, ao teatro, à dança, à música e a outras manifestações culturais de forma única e facilitada são o primeiro e principal ato de todos nós para formalizar a desejável Educação dos Adultos que somos.
Criar hábitos de consumo cultural, no mínimo mensais, é uma razão que se impõe na nossa existência atual.
A leitura habitual de obras literárias e revistas culturais são práticas que se exigem a todos nós, aumentando, nas horas de ócio, horas de compromisso com a leitura para deixarmos de ser “analfabetos regressivos” como nos chama a Unesco por termos perdido os hábitos de leitura ou lermos somente jornais e revistas de fraca qualidade.
Combater o excesso de consumo dos produtos dos templos do consumo ou dos futebóis são exigências essenciais para controlarmos os exageros de gastos e os comportamentos intolerantes e fundamentalistas.
A Formação e Educação dos Adultos que nós somos exige uma consciente reflexão daquilo que somos, dos nossos atos e hábitos e de que forma podemos aprender a sermos melhores!!!
A Formação e Educação dos Adultos que nós somos far-nos-á partilhar com outros iguais novos hábitos que nos irão valorizar pessoal e socialmente.
É difícil??!!! É desejável?!!! É preciso?!! Claro!!!
Temos que assumir hoje mais do que nunca que a nossa existência é aquilo que somos e como nos mostramos perante o Mundo!!!
Ninguém gosta de fazer de “figurante triste” dizendo asneiras e dando “pontapés na gramática” só porque deixamos de respeitar a nossa língua.
O Português, uma das mais bonitas línguas do mundo, quiçá a mais a bonita.
É preciso amar a língua Portuguesa!!!
É importante a formação e Educação dos Adultos que nós somos, obviamente que sim. A criação de novos hábitos de leitura e de escrita e de consumo cultural é fundamental para apreendermos a gostar mais de nós!!!
Alguém duvida, pois, da importância da Educação do Adulto ou dos Adultos hoje??!!
Claro que ninguém duvida, sobretudo aqueles que deixaram de ler e escrever, deixaram de estudar e hoje engrossam tristes e tristemente as filas dos desempregados de um qualquer país.
Ler!!! Ler!!! Ler!!! Será uma das nossas maiores guerras depois destas crises que vivemos!!
Estudar!! Estudar!! Estudar!! Será um dos nossos novos desafios a realizar depois desta hibernação forçada provocada pela pandemia.
Conversar!!! Conversar!!! Conversar!!! Muito mais que divertir pateticamente, será uma necessidade dos próximos tempos que hão de vir depois desta tempestade impensável do COVID-19 em tertúlias e confraternidades onde se dê maior importância à partilha, à oralidade e à vida.
Reflectir sobre nós é valorizar aquilo que somos!!
Nós somos a Pátria e, como nos diz Fernando Pessoa, “A Pátria é a Língua Portuguesa”!!!