Uma história resiliente…

Bruno Ferreira

Artista – Ezik

In Revista TER 42

O meu nome é Bruno Ferreira, pseudónimo Ezik como artista plástico, ilustrador e criador de Street Art.

Bem, neste pequeno excerto de texto, irei falar sobre resiliência, cultura e superação.

Há dois anos, estive aqui na vossa escola a falar sobre criatividade e inspiração, falei também de vários projetos em que estava envolvido, ilustrações e um mural que iria fazer num Hotel em Lisboa, projeto que foi concretizado e é uma das minhas mais preciosas conquistas conseguida através de esforço e dedicação e integridade no meu trabalho, e, acima de tudo , não desistir de ser quem nos somos independentemente das adversidades.

Para poder falar de Resiliência, contarei o meu percurso: no fim do secundário, aluno com boa média, entrei em engenharia civil, com a ideia de fazer o curso de arquitetura, tornando-me engenheiro arquiteto. Cedo percebi que o curso não era o indicado para mim, pois não sou homem de ciências exatas. Fiz os exames novamente e mudei para Arquitetura na Universidade do Minho, curso que acabei por abandonar por dificuldades financeiras, estávamos em ano da Troika para quem se lembra.

Tentei ver outras opções, mas teriam que ser em Braga, pois queria, mas não arranjava trabalho que fosse compatível com estudar fora de Braga, em regime noturno. 

Determinado a tirar um curso, entrei em Ciência Política e, posteriormente, Direito, na Universidade do Minho, tal também não correu tal como esperava: o trabalho que tinha naquela altura alterou os horários, não me permitindo frequentar a maior parte das aulas.

De salientar que sempre continuei a desenhar, em casa nas pausas de trabalho nos momentos mortos, a todo o momento, sempre a criar os meus próprios desenhos, independentemente do curso que tirasse o desenho fará sempre parte da minha vida.

Passei um bom tempo sem procurar referências de artistas ou imagens de forma a fomentar a minha criatividade e técnica , algo que já tinha trabalhado no curso de artes visuais e arquitetura e de forma autodidata, estando constantemente a fazer encomendas que me pediam com as quais me identificava e a recusar as com que não me identificava, escolhendo aqueles que me faziam desenvolver mais as minhas capacidades, colocando o dinheiro em segundo plano, pensando no futuro.

Posteriormente, com um trabalho com um horário compatível, entrei em Design Gráfico. Tudo a correr da melhor forma, vários convites para pintar e encomendas com alguma dimensão nacional, curso a ir no bom caminho e um trabalho sereno que me permitia seguir até chegar aos meus objetivos, saía às 8:30h de casa chegava as 23h e ainda tratava de encomendas e projetos da minha atividade individual como ilustrador, artista plástico e grafiter de arte Urbana. Dormia umas 4/5h, pois todos os desenhos que são criados de forma original, exigem bastante do cérebro a nível criativo, às vezes, decidir se era azul ou vermelho era um desafio que demorava bastantes horas, mas sempre com o orgulho de, no final de contas não haver atalhos, o trabalho era todo meu, eram imagens que até passar para o papel só existiam na minha mente e isso é prazeroso. Tudo encaminhado, excelente portefólio, boas referências, já contactos de trabalho para terminar o curso ate que…

Um acidente de carro coloca-me de baixa: dores, sensações estranhas, passado uns meses e vários exames, não era problema do acidente, tinha sim uma doença autoimune, denominada esclerose múltipla. Podia pensar que era o fim, seria o que muita gente pensa, mas por desconhecimento pela doença – não é fatal e tem agora uma medicação que permite manter uma vida normal. Claro que nem tudo são rosas há dores, sensações estranhas, temos só que ser mais fortes que muitas pessoas e olhar para o copo meio cheio e não meio vazio, ainda agregando mais valor às nossas conquistas.

Depois disto, e de um período e autoaceitação, não fiquei para trás, pelo contrário, mais força me deu, mais propósito, ao contrário do que se possa imaginar estou mais forte agora do que era antes, pois o que nos faz crescer são as dificuldades, e não as conquistas, as conquistas são a cereja no topo do bolo. Devemos ter sempre objetivos gigantescos, de forma a almejar sempre algo maior e não perder o foco.

Com esta responsabilidade, em vez de ficar só a falar sobre o que poderia fazer por mim, pelos outros tomei iniciativa e tentei efetivamente mudar um pouco o Mundo.

Durante e pós o surto, pintei o Hotel Iberostar em Lisboa, participei no Festival Experience Music Fest, pintei dois murais no Parque de Gerizes Em Braga, pintei um mural na EB 1 de Frossos, produzi um Mural para a World MS, Federação Mundial da Esclerose Múltipla. Sou o representante de Talento internacional de Portugal representando a esclerose múltipla, tornando-me um dos símbolos de superação. Fui à SIC falar de Cultura de Resiliência; na TVI foi feita uma reportagem sobre a minha pintura no Hotel, onde se falou sobre perseverança, cultura e desmistificação da doença, a qual sofre preconceito por ignorância, e confusão; apareci nas Notícias online do JN; no site e na revista da Menshealth (edição de julho); Podcast no programa de Cultura Entre Braga e Nova Iorque; Entrevista para Braga27 Capital da Cultura, dezenas de projectos feitos de ilustração, pintura e street art. Continuo a trabalhar, continuo a estudar, continuo a ter mais encomendas… Sei que escrevi muito, mas foi de propósito, para perceberem que é, sim, possível aquilo que cada um quer para si.

Sempre olhei para a arte com responsabilidade social, tentando passar mensagens capazes de fazer o visualizador refletir sobre determinado assunto, deixar uma marca, não espero concordância nas mensagens que tento passar, mas, sim, reflexão sobre determinado assunto.

Não penso na arte como só um conjunto de traços e cores bonitas, quando pinto penso na vida – as cores e traços surgem depois disso e não meramente de uma perspetiva visual, mas sensorial e social, em tentar fazer a diferença de alguma forma, foi isso que os meus ídolos fizeram e é o caminho que continuo a seguir, mantendo me sempre fiel a mim próprio por maiores que sejam as dificuldades. 

Portanto, independentemente dos desafios que apareçam, tudo é possível, acreditar, manter-se fiel aos vossos ideais e muito trabalho é o conselho que dou a toda a gente.