Festival Ecos do Lima: Ecos de uma Comunidade

Ecos do Lima

Festival de Ponte da Barca

 

ENTREVISTA POR
ARNALDO VARELA SOUSA

In Revista TER 45

Imagine o leitor a paisagem: é a margem do Lima, mítico rio que se espraia, preguiçoso, abraçado pela imponente ponte medieval, ladeado pelo verde luxuriante; imagine, depois, uma comunidade – a de Ponte da Barca – cujo orgulho na sua identidade é imagem de marca assumida sem rodeios. Se imaginar, ainda, um grupo de jovens que usa estes ingredientes de forma criativa, inteligente, agregadora e aberta porque livre das peias que ensombram certo bairrismo que se fecha nos limites de um localismo empobrecedor, entenderá os pressupostos que estiveram na origem, em 2015, do Festival Ecos do Lima, em Ponte da Barca, e do seu posterior crescimento até à afirmação absoluta na edição que ocorreu no mês de julho deste ano.

Nascido pela iniciativa de um grupo de amigos – Nelson Barros, Diogo Carneiro, José Alves, Francisco Barros, Carlos Castro e João Pedro – com a duração de três dias e apostando, sobretudo, em bandas alternativas que atuavam na margem do rio, o Festival de 2022, coordenado pela Inês Carneiro, o Nelson Barros, o Diogo Carneiro e o Kevin Pires, estendeu-se por ruas, praças e edifícios históricos da vila, envolveu associações, empresas, instituições e um alargado leque de voluntários num grau de empenhamento da comunidade que lhe confere um caráter único.

Inconformismo, amizade e paixão em torno de um lugar – a Barca, assim lhe chamam os barquenses – originam, ao longo de todo o ano, conversas entre este núcleo duro e amigos de muitas partes em torno do gosto comum pela música, pela literatura, pelo cinema, pelas conversas que se entabulam sem hora para terminar, pelo culto da confraternização e culminam, depois, no festival que decorre em julho.

O deste ano contemplou os espetáculos de bandas como os Sensible Soccers, Galgo, Conferência Inferno e Rapaz Ego, a novidade de um concerto de harpa por Angelica Salvi, na capela da Lapa, e a atuação dos Gaiteiros de Bravães pelas ruas da vila, para além de cinema, encontros de poesia, exposição de fotografia, atividades dirigidas à infância como o projeto “Aqui há história” e atuação de dj’s.

Mas apetece escrever que, tanto ou mais importante que a programação, foi o ambiente de alegria, criatividade, convívio entre pessoas e gerações diferentes que extravasou das margens do Lima para ruas, praças e edifícios marcados por uma identidade que a usura do tempo não diminuiu, antes reforçou, pela arte e orgulho de bem receber que traçam o rosto de uma forma distintiva de estar, ou, como nos disseram a Inês e o Nelson numa conversa cujos ecos são a fonte deste texto, “o Festival não é a música, nem a exposição, nem o cinema, etc…o Festival é a Barca!”.