Auto-conhecimento, motivação e resignação

Liliana Nogueira

Coordenadora de Projetos da EPATV, Fundadora e Diretora Pedagógica do Conservatório de Música e Dança de Arcos de Valdevez, Professora de canto na Academia de Música de Vila Verde

In Revista TER 42

A vida não é um mar de rosas. Há muitas coisas, fora do nosso controle que afetam a nossa realidade. Fatores externos, alheios á nossa vontade e que nem sempre os podemos prever, que fazem mudar o rumo da nossa vida.

Cada um de nós tem histórias e situações, com as quais nos deparamos no dia a dia, que demonstram a necessidade de desenvolvermos a capacidade de resiliência, como resistir, suportar as pressões, retomar o equilíbrio e seguir em frente. Histórias que ilustram o quão dura pode ser a caminhada a que chamamos de vida.

Vou recontar uma pequena história, de autor desconhecido, que li e que esboça uma compreensão acerca dos desafios que enfrentamos ao longo da vida e como estes nos tornam mais capacitados e preparados:

“Um homem observava, horas a fio, uma borboleta que se esforçava para sair do casulo. Ela conseguiu fazer um pequeno buraco, mas o seu corpo era grande demais para passar por ali. Depois de muito tempo, ela pareceu ter perdido as forças e ficou imóvel. O homem decidiu então ajudá-la: com uma tesoura abriu o restante casulo, libertando a borboleta. Mas o seu corpo estava murcho e era pequeno e tinha as asas amassadas. O homem continuou a observá-la, esperando que, a qualquer momento, as suas asas se abrissem e ela levantasse voo. Mas nada disso aconteceu; na verdade, a borboleta passou o resto da sua vida rastejando com um corpo murcho e asas encolhidas. Incapaz de voar.”

O que este homem- com a sua gentileza e vontade de ajudar- não compreendia, era que o casulo apertado e o esforço necessário à borboleta para passar através da pequena abertura foi o modo escolhido pela natureza para exercitá-la e fortalecer as suas asas.  Tal como a borboleta da história, às vezes, um esforço extra é precisamente o que nos prepara para o próximo obstáculo a ser enfrentado. Por consequência, quem se recusa a fazer este esforço, ou quem tem uma ajuda errada, não tem condições de vencer a batalha seguinte, e jamais consegue voar até ao seu destino.

Todos nós sabemos que não é fácil enfrentar os obstáculos do dia a dia. Desde que nascemos a vida parece uma enorme guerra, dividida em batalhas de 24 horas. Felizmente, a cada batalha, tornamo-nos mais preparados para a etapa seguinte. Agregamos conhecimentos, perceções, experiências que vão moldando as nossas capacidades, entre elas, a resiliência. 

A resiliência é algo de que, apenas, tomamos consciência depois do acontecimento.

Já dizia Friedrich Nietzsche que, “Aquilo que não nos mata, fortalece-nos!”

As experiências mais duras, os problemas, as dificuldades, os obstáculos que enfrentamos fortalecem-nos quer mental quer emocionalmente e a nossa evolução, crescimento e fortalecimento ocorrem quando aprendemos, na prática, a superar as adversidades. Eu, pessoalmente, penso nos problemas, não como algo que ocorre na minha vida, mas como algo que ocorre para mim, para a minha evolução, aprendizagem e crescimento. Quando passamos e enfrentamos momentos de tensão, tristeza, dor, preocupação, medo, nervosismo, duvida, raiva, angustia, é sempre difícil, mas, faz parte da nossa trajetória e é, precisamente na capacidade de resistir e retomar o equilíbrio a que chamamos de resiliência.

É nas adversidades que desenvolvemos a resiliência.

Daniel Goleman, escritor, psicólogo e jornalista da ciência, refere que a chave neuronal para a resiliência está na rapidez com que recuperamos desse estado em que o nosso cérebro se encontra fora de si, como quando nos irritamos a ponto de dizer ou fazer alguma coisa que depois nos arrependemos ( Goleman, 2017).

Por sua vez, Richard Davidson, neurocientista da universidade do Wisconsin, descobriu que cada um de nós tem um nível característico de atividade tanto do lado esquerdo como do lado direito, esse nível determina o intervalo em que varia o nosso estado de espírito diário- à direita, mais tenso; à esquerda mais resiliente (Cury,2004).

Com o objetivo de regular e treinar a resiliência, o perito em meditação, Jon Kabat-Zinn, da faculdade de Medicina da Universidade de Massachusetts, desenvolveu um método de treino, simples, de atenção plena que ensina o cérebro a registar o que acontece no momento presente através de uma concentração profunda- meditação. Um estudo efetuado numa empresa, cujos funcionários estão continuamente sob pressão, demonstrou que no final de oito semanas de treino, a meditar cerca de 20 a 30 minutos diários, o cérebro apresentava uma diminuição da atividade no lado direito tenso e um aumento da atividade no lado esquerdo resiliente. Além disso, despertou neles a energia e a lembrança do que realmente apreciavam no seu trabalho (Kabat-Zinn, 2014).

Aplicar a técnica de Jon Kabatt-Zinn, visa trabalhar com 3 características individuais que se vão desenvolvendo e fortalecendo ajudando-nos a ser mais resilientes.  Estas 3 particularidades são: Autoconhecimento, motivação e resignação (Frasson,2018).

O autoconhecimento envolve o reconhecimento das nossas qualidades e capacidades assim também como das nossas limitações e fraquezas. A importância pelo nosso autoconhecimento está em obter sentido e clareza em relação aquilo que nos completa, o que dá real sentido à nossa vida, o que nos faz sentir felizes e realizados. Há uma reflexão no templo de Elfos na Grécia, que define bem este conceito de autoconhecimento “Conhece-te a ti mesmo e conhecerás todo o universo e os deuses, porque se o que procuras não achares primeiro dentro de ti mesmo, não acharás em lugar algum.”

Auto-motivação, é a energia que nos move, que nos provoca, que nos dá coragem e força para lutarmos em busca dos nossos objetivos.  A motivação vem de dentro de cada um de nós e demonstra aquilo que realmente somos.

Segundo José Roberto Marques, escritor, coach e CEO do IBC, “resignar é aprender a dar novo sentido à vida”. Resignar é conseguirmos ter uma perspetiva diferente sobre a vida, darmos novas interpretações, criar um novo foco acerca de experiências dolorosas, é fundamental para conseguirmos desenvolver a nossa inteligência emocional, criando assim uma mente mais equilibrada e saudável.

Não temos o poder de controlar tudo na vida, mas podemos controlar a nossa reação perante as situações, apenas nós, somos autores da nossa própria história.