Ambientes Educativos Inovadores – desafios e oportunidades

Teresa Pombo

Equipa de Recursos e Tecnologias Educativas, Direção-Geral da Educação

In Revista TER 31

No ano letivo de 2015-2016, a Direção-Geral de Educação, nomeadamente a Equipa de Recursos e Tecnologias Educativas, teve o grato prazer de começar a observar em algumas escolas portuguesas um movimento muito concreto de inovação tecnológica que consistiu na criação de espaços destinados a sala de aula organizados de acordo com o modelo do Future Classroom Lab (http://fcl.eun.org/), um laboratório de experimentação de metodologias de ensino e aprendizagem suportadas por tecnologias que existe em Bruxelas, nos escritórios da Rede Europeia dos Ministérios da Educação, a European Schoolnet (EUN – http://www.eun.org/) . Ao momento, estão implementadas em Portugal, por iniciativa das próprias escolas e com o incentivo da DGE, vinte e seis ambientes educativos inovadores (cf. http://erte.dge.mec.pt/ambientes-educativos-inovadores). Ambientes Educativos Inovadores (AEI) foi a designação adotada pela DGE, uma designação flexível que pretende abarcar espaços educativos, físicos ou digitais, que possam ser palco de metodologias de educação e formação inovadoras (suportadas por tecnologias).

A primeira sala deste género (https://cunhacj.wixsite.com/saf-setubal) surgiu na Escola Secundária D. Manuel Martins em Setúbal por iniciativa do professor Carlos Cunha, um professor inovador com presença assídua em projetos desenvolvidos pela European Schoolnet e um dos primeiros professores portugueses a frequentar um curso no FCL. A dinâmica foi crescendo, na medida em que mais professores e Diretores portugueses foram participando nos cursos dinamizados pela EUN/FCL e a dinâmica foi sendo apresentada pela própria DGE no contexto de diversos projetos coordenados pela ERTE ao longo dos últimos anos. Os espaços surgem como laboratórios de incentivo de práticas docentes mais centradas na aprendizagem ativa do aluno, práticas em que as tecnologias assumem um papel muito importante (acesso à Internet, computadores, dispositivos móveis, quadros interativos, robots, etc) mas em que o fundamental são as tipologias de atividades que são propostas aos alunos. Assim, cada AEI poderá incluir diferentes áreas, cujos nomes correspondem, precisamente, às atividades que aí podem ter lugar: Criar, Interagir, Apresentar, Investigar, Partilhar e Desenvolver (cf http://fcl.eun.org/pt_PT/learning-zones) .

Fig. 1 - Distribuição das diferentes zonas de aprendizagem no modelo “Future Classroom”

Entre 2015 e 2017, com o apoio e incentivo da DGE, por iniciativa das Direções das Escolas, em muitos casos decorrendo do envolvimento de alguns docentes das escolas em projetos da EUN, foram sendo implementados diversos espaços deste género; o mapa da figura 2 ilustra a sua distribuição geográfica em julho de 2017.

Fig. 2 - Distribuição geográfica dos diferentes Ambientes Educativos Inovadores em Portugal em julho de 2017 (fonte: ERTE)

Este movimento tem sido profundamente inovador e fonte de contágio uma vez que outras escolas, ao visitar os espaços já implementados, decidem apostar no seu próprio espaço; fazem-no sobretudo com o objetivo de o tornar um indutor da mudança de práticas em sala de aula, muitas vezes suportadas por tecnologias. A existência destes espaços tem sido, aliás, aproveitada pelas Escolas como oportunidades de formação. São dinamizadas ações de curta duração, eventos ou cursos que exploram a potencialidade não só dos espaços e sobretudo a riqueza de meios tecnológicos que acaba por caracterizar estes espaços.

Ao longo dos anos de 2016 e 2017, a DGE acabou por ter oportunidade de proporcionar uma espécie de tour oficial deste conceito através da instalação de pequenos AEI em diversas feiras sobre educação realizadas por todo o país, como foi o caso da Futurália, da Qualifica, do Festival da Juventude de Vila Franca de Xira e da I Feira da Educação, Ciência e Tecnologia – Ponte de Lima. Nesses momentos e espaços, foi possível dinamizar um número diverso de sessões práticas onde era possível aos visitantes perceber o enorme potencial deste espaços e da tecnologia que os enriquece. Foram dinamizadas sessões com quadros e aplicações interativas, tablets e smartphones, bem como de programação e robótica.

Por outro lado, como se pode verificar a partir da consulta das páginas web que muitas das escolas/agrupamentos que possuem AEI já disponibilizam há todo um movimento de utilização destes espaços para a formação docente. A formação e as sessões referidas revelam as características essenciais dos AEI como espaços de aprendizagem ativa, espaços de colaboração, que colocam o aluno no centro das aprendizagens, que revelam um professor que desenha cenários de aprendizagem inovadores e em que a avaliação formativa está presente ao longo de todo o processo.
A DGE tem defendido a ideia de que estes AEI deverão ser, em primeira instância, AFI, ou seja, ambientes formativos inovadores, e que são mais uma prova da necessidade imperiosa de os docentes trabalharem em rede. Todo o historial, já com 10 anos, de plataformas de colaboração como o eTwinning que proporciona desenvolvimento profissional contínuo e oportunidades de colaboração entre as escolas europeias, do papel crescente de redes sociais como o Facebook ou o Twitter para a formação docente em ambiente informal (com o conhecimento de novas ferramentas, ideias e planos de aula) ou projetos como que a DGE promoveu em 2016, 2017, ou o CO-LAB, que promovem a o trabalho colaborativo entre alunos e professores, parece apontar para a necessidade de que também estes AEI possam funcionar como uma rede, quer trocando informações entre si, quer atuando como pólos dinamizadores das próprias comunidades em que se inserem e das escolas/agrupamentos mais próximos.
Percebemos assim, pela reflexão em torno das diversas áreas que compõem um AEI e do que elas visam de que os AEI terão que ser, necessariamente, ambientes de aprendizagem colaborativos. Mas quais as razões para os adotarmos e procurarmos fazer de cada sala de aula, um ambiente educativo inovador?

Em primeiro lugar, é fundamental não esquecer que os espaços de aprendizagem têm impacto na aprendizagem. Basta pensarmos na diversidade de uma sala de pré-escolar e no ambiente formal que caracteriza uma sala de aula comum no ensino secundário ou superior. Enquanto no primeiro caso, tudo está desenhado para despertar a curiosidade da criança e maximizar as oportunidades de desenvolvimento, no outro espaço evitam-se os elementos de distração para que a atenção se foque no professor que transmite os ensinamentos que conduzirão à aprendizagem; apenas esquecemos que se aprende melhor… fazendo.

Em segundo lugar, se olharmos à nossa volta, aquilo que cada vez mais caracteriza a sociedade em que vivemos, a tecnologia, a comunicação constante, percebemos que os espaços de aprendizagem atuais estão, na sua maior parte, desatualizados. Se pensarmos nas diferenças entre uma sala de aula comum dos nossos dias e de outra de há cinquenta anos, sabemos que pouco ou nada mudou; se pensarmos numa sala de cirurgia de um hospital, tudo mudou. E ainda bem.

Por outro lado, é necessário valorizar cada vez mais o poder da aprendizagem ativa. Assim, por exemplo, se os alunos de uma turma de 3.º ciclo que aprendem sobre poluição ambiental, escutarem o professor durante 30 minutos isso poderá ser menos significativo do que aquilo que aprenderem numa visita de estudo a uma praia, para uma campanha de recolha de lixo, realizando uma reportagem para o jornal da escola em seguida.

Uma outra razão será o facto de as tecnologias que são inerentes aos espaços educativos inovadores facilitarem o foco, permitirem personalizar a aprendizagem e, sem dúvida, respeitar os seus diferentes ritmos.

Os ambientes educativos inovadores são, por natureza, flexíveis; permitem a reinvenção dos lugares de trabalho, são ricos em materiais e dispositivos, facilitam a adoção de atividades individuais, a pares, em grupos ou de apresentação para todo o grupo. Permitem criar, pesquisar, divulgar, sob inúmeras formas.

Os AEI são, apesar disso – ou por isso mesmo – espaços confortáveis, podendo ser reconfigurados à medida dos seus utilizadores. A psicologia tem revelado que os espaços de aprendizagem têm impacto no desejo e na capacidade de aprendizagem. Quem não sente que aprende ou trabalha melhor num espaço mais agradável?
Não podemos esquecer, também, que a facilidade de acesso a espaços digitais alarga estes AEI; eles não são apenas físicos, são espaços desenhados no digital com objetivos e atividades bem delineados. São espaços de vivência em comunidade onde as redes que se criam são fundamentais.

Se pensarmos que desenhar um AEI é sinónimo de modernizar a sala de aula, não temos dúvidas de que são apresentados vários desafios aos professores e às escolas. Em primeiro lugar, onde investir de forma a ter o máximo benefício? Em tecnologia? em mobiliário? Em formação docente? Tudo dependerá das características e necessidades da escola, naturalmente. Depois, é importante pensar que se deve impedir que o impacto seja apenas a curto prazo. Não queremos que o novo espaço da escola seja, quer para professores, quer para alunos, uma novidade fugaz, que não provoque, efetivamente, mudanças nas práticas docentes, mudanças em práticas que não possam ser replicadas noutros espaços e que a inovação fique restringida àquele espaço em particular, e a um bloco de aula, também. É importante que Direções e Docentes pensem como poderão adaptar as práticas às necessidades do contexto; pode ser que um determinado agrupamento já veja generalizada entre os seus docentes uma série de práticas inovadoras e o espaço vai servir para melhorar ou, pelo contrário, a criação do espaço pretende ser indutora dessa generalização pela oferta de mais e melhores condições. Importa pensar que toda esta mudança deve operar-se sem grande disrupção. O que é que isso significa? Que é importante que não funcione como um choque, uma mudança pouco sustentada, em que os objetivos de aprendizagem não sejam claro. O importante, no final das contas, será sempre a promoção do sucesso das aprendizagens dos alunos e o desenvolvimento das competências digitais deles e dos seu professores.

De acordo com a publicação “The Modern Classroom” da Promethean, uma empresa do setor tecnológico que tem apostado em produtos educativos como quadros interativos e mesas multimédia, dispositivos de votação e plataformas, são três o elementos de uma sala de aula moderna: a pedagogia, o espaço e a tecnologia. Acrescenta ainda que há quatro catalisadores da motivação para a aprendizagem, o envolvimento dos docentes (e a curiosidade e atenção contínuas dos alunos), a personalização (a aprendizagem é informal, independente, está sujeita a um processo reflexivo; as atividades são adaptadas de acordo com as necessidades e interesses); a colaboração (os alunos estão envolvidos em atividades cujos resultados implicam interdependência e há uma co-responsabilização nas decisões tomadas); e, por fim, o feedback (ferramentas e processos que dão aos alunos informação sobre o seu desempenho relativamente a um ideal).

De modo a que tudo funcione, pensamos que o eixo da formação docente é, de facto, fundamental. As seis áreas que definem os AEI, Criar, Interagir, Apresentar, Investigar, Partilhar e Desenvolver são todas e cada uma, indutoras de uma série enorme de possibilidades de alteração nas metodologias de ensino. Se pensarmos então, na questão da inovação introduzida pelas tecnologias, poderíamos pensar em outros tantos grupos de ferramentas: edição vídeo, comunicação, pesquisa e trabalho de projeto, criatividade, colaboração. Neste ponto ainda da formação, algumas recomendações poderão ser feitas para todos quantos venham a ser protagonistas destes novos espaços: estar disponível para aprender com o outro, sobretudo com os alunos; reconhecer que se aprende melhor fazendo; reconhecer que quem não erra aprende menos; questionar sempre; saber que simples é melhor; estar consciente de que o importante não será a tecnologia, a ferramenta, mas o método.

Ambientes Educativos Inovadores podem e devem ser, cada vez mais, qualquer sala de aula. A DGE, nomeadamente, continuará a apoiar, através da sua Equipa de Recursos e Tecnologias Educativas, iniciativas das escolas desta área, quer através de pequenas ações formativas quer através dos projetos, nacionais e europeus, que vai promovendo e cuja informação se encontra divulgada em www.erte.dge.mec.pt .